Carioca
O ranger do piso de madeira sob o carpete denunciava meus passos.Meus olhos circundavam aquela imensidade de cores,de vibrações e sensações presentes nas fotos.Era como se elas tivessem vida,como se me transportassem àqueles lugares de forma rápida e simples,mas nem por isso de forma menos incrível.Ao contrário.
Emmanuelle Bernard conseguiu,através de seu olhar estrangeiro,recuperar em mim um sentimento que há muito havia perdido em relação a minha cidade: a emoção,o orgulho de viver aqui.Parte dessa perda talvez aplica-se ao fato de que estamos vivendo em épocas perigosas, e por isso acabamos por nos esquecer dos sentimentos.
E que coisa horrível! Descobri que sentia realmente falta disso.Descobri que sentia falta de amar o Rio,de ao invés de olhar com os piores olhos,eu não precisava usar “lentes”,mas que poderia ver com esses mesmos olhos um Rio maravilhoso,lindo,um Rio que sentia falta,o Rio do qual lembrei e vi,hoje!
Cada foto de um rosto carioca mostrava uma certa apreensão,medo,tristeza.Mas TODAS, mostravam fé e alegria,sem exceção. Todas refletiam o Rio que queremos: o Rio feliz,apesar de tudo.
A exposição me mostrou que ser carioca é fazer parte de uma bagunça feliz.Que é conviver com diferentes tipos de pessoas,de diferentes etnias,de modos de vida diferentes,e simplesmente abraçar essa causa com a maior naturalidade possível.As imagens me mostraram, que assim como o Cristo, estamos sempre de braços abertos.E para tudo.O carioca é,de fato,um ser diferente.
Que me desculpem os outros lugares do mundo,mas ser carioca é fazer parte do grupo de pessoas mais simpáticas do planeta,mais calorosas.
Saí de lá com alguns pensamentos renovados,e o passeio pelo Centro do Rio ajudou.E muito.Ajudou-me a perceber que aquele Rio,lá do passado,de paz,pode voltar.Só precisamos ter fé.